by 4(Quatro)Rodas
Antes da abertura da temporada de 1983, no Grande Prêmio do Brasil, o circo já sabia que aquele seria o primeiro ano do confronto dos motores turbocomprimidos da história da F-1.
A Renault, que competia com os motores turboalimentados desde 1977, estava armadíssima com o seu V6T, que também equipava a Lotus. A Ferrari estreava o V6T, a Alfa Romeo vinha para a briga com o V8T, a Toleman de Hart L4T e a ATS e a Brabham com o BMW L4T, todos com a cilindrada regulamentar de 1.5 cm³, mais o turbocompressor. Numa outra faixa de potência competiam a Tyrrell, Williams, McLaren, Ligier e Arows, todas impulsionadas pelo Ford-Cosworth V8,3000 cm³, aspirados.
Piquet estreou de forma magnífica, com vitória e volta mais rápida em Jacarepaguá, fechando a corrida 59 segundos à frente de do McLaren de Niki Lauda e 1 minuto do Ligier de Jacques Laffite, seus companheiros de pódio.
Nas três corridas seguintes Piquet teve resultados variados. Ele não terminou em Long Beach, mas na terceira, o GP a França, emplacou um segundo lugar na vitória de Alain Prost, deixando claro que a batalha do bicampeonato seria contra o francesinho, primeiro piloto da Renault.
Em San Marino Piquet não pontuou, foi 2º em Mônaco, 4º na Bélgica e em Detroit, enquanto no Canadá teve problemas no turbo do seu Brabham BT52. Após a corrida na Inglaterra, quando Piquet terminou em segundo, a briga com Prost continuava parelha: o francês liderava o campeonato com 39 pontos contra 33 de Piquet, com metade do campeonato já disputada.
Em Silverstone, Piquet recebeu a visita do lendário tricampeão Jack Brabham, fundador da escuderia. O que o brasileiro não sabia é que a chance de pilotar o primeiro F-1, o McLaren da BS, teve o dedo Old Jack. Foi ele quem o indicou Piquet a Bob Sparshott, quando este ofereceu a oportunidade para seu filho Geofrey, durante uma corrida de F3 em Silverstone.
- "Se eu fosse você - disse Jack Brabham - eu convidaria aquele brasileiro", e apontou Piquet na reta de Silverstone.
Claro que o velho Jack tinha olho para as coisas da pista, mas certamente não imaginou que, ao indicar Piquet para a F-1, estava descobrindo um piloto que seria bicampeão do mundo pela equipe que ele tinha fundado há 21 anos.
Nas três corrida seguintes Piquet viveu capítulos e resultados bem diferente: no GP da Alemanha, o turbo incendiou, na Áustria ele fechou 3º, e ficou com 37 pontos, no meio do trio francês que tinha Prost, 51 pontos, René Arnoux, Ferrari, 43 e Patrick Tamby, Williams, 37.
A Brabham foi para o GP Holanda com novidades introduzidas pelo projetista Gordon Murray na suspensão e aerodinâmica do BT52. Piquet agradeceu e voou em Zandvoort, cravando a pole position. Ele liderou a corrida por 52 das 73 voltas, mas aí sofreu dos mais violentos acidentes dos 30 sustos que passou nos 13 anos de F-1. Ele assim me relatou, com detalhes:
"Eu entrei direto no guard rail a 240 km/h. Dei uma senhora porrada e fui resvalando na cerca de proteção por uns 120 metros. Pensei, vou morrer. No entanto, quando o carro parou, eu saí interinho e o BT só teve a suspensão quebrada e parte da carenagem arrancada".
Uma faceta bem marcada no caráter de Nelson Piquet é a sinceridade. Ele nunca escondeu, por exemplo, o medo, que assim ele definiu:
"Ninguém na F-1 pode dizer que não sente medo. Isso é mentira. Igual o medo, só a vontade de vencer. Eu me borrava de medo em toda a largada, principalmente se visse o Andrea de Cesaris do meu lado. Até nos treinos eu sentia aquele friozinho na barriga. Mas não era um pavor da morte. Eu temia a invalidez, me quebrar todo", admitiu após o acidente de Zandvoort.
Depois da Holanda, 12ª etapa das quinze do calendário, Piquet resolveu partir para a reação. Naquela altura do campeonato o Brahbam e o motor turbocomprimido BMW, estavam ótimos. Prova disso, foi a sua tranqüila vitórias no GP da Itália, no qual seu parceiro de Brabham, Riccardo Patreser, largara na pole e cravara a volta recorde.
Foi um triunfo importante, porque Piquet se aproximou dos franceses, agora com 46 pontos contra 49 de René Arnoux e 51 do líder Alain Prost.
Depois da vitória Piquet lembrou que tinha sido naquele mesmo autódromo de Monza, cinco anos antes, que ele entrou para a Brabham de maneira insólita, bem a seu estilo e ao de Bernie Ecclestone, o então dono da escuderia.
Ele estava dentro do McLaren da BS, no GP da Itália de 1978, quando sentiu alguém tamborilar no seu capacete. Era nada menos do que o todo poderoso Bernie Ecclestone, com uma pergunta objetiva:
- Você quer correr para mim ?
- Quero, respondeu Piquet, sem titubear.
- Então me procure à noite, no Tourist Hotel, no Parco de Monza - intimou Ecclestone, dando às costas.
Á noite, noutro diálogo curto e objetivo. Ecclestone perguntou:
- Você lê inglês?
- Não, mas não interessa, o que você tem para me oferecer? Retrucou Piquet, curioso.
- Um contrato por três anos, que depende da tua capacidade. Se você for bom guia o carro.
- Eu assino.
- Você não quer saber o quanto vai ganhar? --disse o chefão.
- Você vai me pagar? - surpreendeu-se, o piloto.
- Vou. No primeiro ano eu pago 30% dos prêmios que você ganhar. No segundo e terceiro continua recebendo os 30% da premiação e mais 50 mil dólares. Você só tem de acelerar.
- Só acelerar? - vibrou Piquet - e assinou o contrato, que Ecclestone guardou na pasta e ele jamais leu ou sequer teve uma cópia.
Piquet conhecia a fama de esperto do novo patrão, mas pensou "dane-se" e foi à luta. Ele queria mesmo era pilotar um carro competitivo e a chance veio rápida. Já no GP do Canadá (8/10.1978) ele guiou o Brabham, de onde só saiu bicampeão, no fim de 1985, para a Williams.
A Fórmula 1 saiu de Monza para o GP da Europa, penúltima corrida do campeonato, disputada no circuito inglês de Brands Hatch.
Era oportunidade dele vencer, desmanchar a vantagem de Prost e partir para a grande final no GP da África do Sul, em condições de ser bicampeão.
A classificação não foi das melhores, porque Piquet preferiu acertar o melhor possível o seu BT52 para a corrida. Ele partiu em 4º, atrás dos Lotus de Elio de Angelis e Nigel Mansell e do companheiro Riccardo Patrrese. A boa notícia era que Alain Prost ia largar em 8º, e, como garantiu Piquet, o francês só o ultrapassaria por cima, porque ele ia fechar a porta.
Mas além da disposição, Piquet precisou de muita concentração para vencer Prost, que numa tocada estupenda, concluiu o último dos 319 km da corrida, a apenas 6 segundos do brasileiro.
Agora só faltava a batalha final, em Kyalami, no GP da África do Sul, para onde Prost levava as esperanças de tornar-se o primeiro francês a toranr-se campeão da F-1 e Piquet brigava pelo bicampeonato. A contagem ainda era favorável a Prost, 57 a 55.
A grande jogada de Piquet, e seu engenheiro Gordon Murray, foi a tática da corrida. Eles inverteram o reabastecimento de combustível. Ao contrário dos concorrentes, optaram em largar com pouca gasolina e, com o carro mais leve, a idéia era abrir uma boa diferença e só então fazer o pit stop.
Bem pensado, melhor executado. Piquet abriu facilmente 23 segundos de Prost e então parou nos boxes para completar o tanque. Foi um golpe fatal no francês que, ao efetuar o reabastecimento de seu Renault e retornar à pista, estava preciosos 40 segundos atrás do brasileiro.
Com o título garantido, Piquet mostrou a sua irreverente faceta e permitiu-se fazer uma generosidade: regalar a vitória a Riccardo Patrese, sem parceiro de Brabham. Mas, ao facilitar a passagem do italiano, Andrea de Cesaris, que vinha em terceiro com um Alfa Romeo, aproveitou o embalo e também passou o brasileiro.
Felizmente, para Piquet, o turbo do Renault do francês estourou quando ele estava em 5º. Se o francês terminasse na quinta posição, fecharia o campeonato empatado com Piquet em 59 pontos e, nessa situação, o título seria de Prost, que tinha uma vitória a mais: quatro, contra três do brasileiro.
Piquet, entretanto, não se vexou. E com a consciência da travessura, comemorou:
"Foi só para provocar o último suspense do ano no meu bicampeonato."
1983- 15 GPs.
Campeão: 1º Nélson Piquet, 59 pontos
2º Alain Prost, 57
3º René Armoux, 49
4º Patrick Tambay, 40
5º Keke Rosberg, 27
6º John Watson e Eddie Cheever, 22
8º Andrea de Cesaris, 15
9º R. Patrese, 13
10º Niki Lauda, 12
11º Jacques Laffite, 11
12º Michele Alboreto e Nigel Mansell, 10
14º Derek Warwick, 9
15º Marc Surer, 4
16º Mauro Baldi, 3
17º Elio de Angelis e Danny Sullivan, 2
19º Johnny Cecotto e Bruno Giacomelli, 1
Construtores:
Campeão: 1º Ferrari, 89
2º Renault, 79
3º Brabham, 72
4º Williams, 38
5º McLaren, 34
6º Alfa Romeo, 18
7º Tyrrell e Lotus, 12
9º Toleman, 10
10º Arrows, 4
11º Theodore, 1
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